segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fantasmas

Passei hoje em frente ao café Old Navy, no boulevard Saint-Germain. Era onde Cortázar costumava escrever, dizem.

Não tive coragem de entrar. Porque imaginei que poderia encontrar Cortázar lá. Que loucura seria! Se o encontrasse, ele poderia olhar para mim. E, se olhasse, o que eu lhe diria?

Aí está minha dificuldade: queria saber o que dizer a uma pessoa que não pode mais viver conosco. Qualquer palavra seria inútil... Talvez o melhor fosse não dizer nada. Mesmo porque, antes de tudo, seria preciso vencer o medo de encarar um fantasma.

Em meio àquela multidão que andava pelo boulevard Saint-Germain, será que eu encontraria Cortázar? E, se o encontrasse, e se ele olhasse para mim, venceria eu o medo de olhar para um morto? Não sei, não sei... Talvez, por conta de minha covardia, eu preferisse simplesmente fechar os olhos. Ou seja, fugir...

Na verdade, vivo fugindo de fantasmas. E, no entanto, tenho que lidar com eles todos os dias. Eles sempre me encontram, sempre me assombram, e não por acaso, afinal, estão muito perto: meus fantasmas habitam todos dentro de mim. E em Paris, sinto que a convivência com os mortos é muito mais difícil, porque é como se eles estivessem mais perto do que nunca.

Hoje pensei: não vim para Paris, vim para dentro de mim. Paradoxalmente, acabei me aproximando ainda mais do que eu queria evitar. Pois aqui, "chez moi", não tenho para onde fugir dos mortos. Que destino!

Sim, destino. Porque tenho a impressão de que não escolhi nada isso. Se eu fosse o autor de minha própria história, teria me feito corajoso, um herói de verdade, ou, pelo menos, um personagem que soubesse lidar melhor com fantasmas. Mas só o que sei fazer é fugir deles.

3 comentários:

  1. Acho que fugir às vezes é sinônimo de enfrentar,uma maneira de lidar bem com a situação,respirar...sabia?? Fazia tempo que não passava por aqui e fiquei feliz por vim te visitar! Bjs. le.

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  2. Tentarei pensar assim, Lettícia. Não tanto como forma de consolo, mas para realmente acreditar que a fuga pode ter algo de positivo, "respirar", como você disse. Beijos.

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  3. Um Mégane hatch na primeira foto. Legal! Hiro

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